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Imagens da República na Beira Baixa

100 Anos de República em Proença-a-Nova

A República Portuguesa fez 100 anos. Foi em 5 de Outubro de 2010 que a centúria se completou. Foi em 5 de Outubro de 1910 que o regime foi proclamado, rasgando largos caminhos de esperanças várias.

Com um Projeto doutrinariamente pedagógico e ideologicamente libertador, a I República Portuguesa integra-se na grande família originada pelas heranças da Revolução Francesa, não olvidando o motor primeiro, a Revolução Americana, com a sua fortíssima componente maçónica. Obviamente, a implantação da República não proveio do nada. Nada nasce do nada.

A monarquia constitucional em que o país vivia desde 1834 (com raízes na Revolução Liberal de 1820) prenunciava já o estado republicano. Aniquilados que foram a aristocracia e o clero absolutistas, inaugurava-se o edifício da modernidade sociopolítica, traduzida na tomada do poder pelas classes industriosas, na liberdade de associação e de imprensa, na eleição parlamentar. Mas isso não era bastante para os homens da geração republicana (e das mulheres que muito lutaram pela obtenção dos mesmos legítimos direitos que a sociedade de modelo patriarcal continuava a perpetuar, mencionando, entre outros nomes, a grandeza de Ana de Castro Osório, Maria Veleda, Carolina Beatriz Ângelo,...), inimigos de um regime que reputaram incapaz de promover o desenvolvimento interno e de restituir a Portugal um lugar e uma voz no mundo. A família real, com o seu exorbitante despesismo, personificava o alvo a abater. Assim nasce entre nós a República, um modelo político quase pioneiro na Europa onde, além da França, só existia a Confederação Helvética.

Foi esse período republicano inicial que se evocou no transacto dia 27, em Proença-a-Nova, com a abertura de um Ciclo de Conferências integrado num programa mais vasto de comemoração do Centenário da República Portuguesa, programa cultural que se prolongará até Abril/Maio de 2011 (conquanto o término das comemorações ocorrerá em Agosto de 2011, com a celebração do centenário da promulgação da 1ª Constituição da República Portuguesa). Foi À Conversa Com... o Dr. João Bonifácio Serra (investigador do IHC da Universidade Nova de Lisboa, ex-membro da Comissão do Centenário da República, vogal executivo da Fundação Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012), o qual proferiu uma didáctica intervenção sobre O que é uma República? (5 de Outubro de 1910: o antes e o depois), e com o Dr. António Manuel Silva (professor de História do Agrupamento de Escolas de Proença-a-Nova e investigador da história local), cuja intervenção versou os 100 Anos da República em Proença-a-Nova, que a população escolar e a comunidade do concelho proencense puderam desfrutar da partilha de saberes trazidos pelos conferencistas.

 

Sob a égide Imagens da República na Beira Baixa, e após o programa inaugural a 5 de Outubro passado da Exposição 100 Anos da República em Proença-a-Nova e do Centro Educativo da mesma localidade (Inauguração de 100 Escolas – iniciativa do Min. da Educação), levados a efeito pelo município, destaca-se a parceria estabelecida pelo Agrupamento de Escolas de Proença-a-Nova, através da Biblioteca Escolar Pedro da Fonseca, com a autarquia municipal, possibilitando a abertura de um leque mais vasto e variado de iniciativas culturais. Estas duas conferências inaugurais abriram um ciclo que se prolongará, com outras intervenções já previstas e agendadas, as quais, outro mérito não tendo, permitirão reflectir sobre uma centúria de história vívida e vivida. De lições de história sobre a História.

O republicanismo assumiu-se, desde cedo, como um Projeto que visava reformar a mentalidade portuguesa por via da instrução e da educação. A educação foi imediatamente entendida como factor de emancipação do povo. Com efeito, a I República reuniu um vasto conjunto de pedagogos que orientaram os Projetos e realizações educativas deste período (Bernardino Machado, Faria de Vasconcelos, António Sérgio, Bento de Jesus Caraça, João de Deus Ramos, João Soares, entre outros, são nomes cuja assunção de imediato ocorre). O regime republicano, apesar das limitações de ordem financeira e conjuntural com que teve de (con)viver, procurou de facto promover o ensino, a expansão da língua portuguesa e a organização da ciência, procurando fomentar a investigação científica e a cultura portuguesa no mundo.

Da varanda, já “republicana”, da Câmara Municipal de Lisboa, com José Relvas, Eusébio Leão, Inocêncio Camacho,..., passando pela Maçonaria e pela Carbonária, até à realidade singela de Proença-a-Nova, de tudo se deu conta um pouco neste À Conversa com... Das felicitações dadas em Proença-a-Nova à República recém-nascida dá conta a imprensa coeva (Diário de Notícias, de 12 de Outubro de 1910 e O Século, de 13 de Outubro de 1910). 767 anos volvidos sobre o fim da monarquia e a inauguração de uma nova fórmula de governação, frustrando-se ou não, no campo social e na reforma das mentalidades, as boas intenções dos arrojados mentores das mudanças, certo é que se produz uma renovatio de Portugal, com símbolos novos e um olhar mais aberto e empenhado sobre os mitos da nova identidade.

Após o 5 de Outubro de 1910, era tempo de erguer um edifício político e social que se pretendia inovador. 100 Anos depois, Outubro de 2010, o ideal repete-se, se não com o mesmo sentido, pelo menos com as mesmas palavras.

Isabel de Bessa Garcia

Prof.ª  Bibliotecária do AEPN


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